quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Desregrada, solitária e boêmia, poeta Orides Fontela permanece no anonimato

Esqueçam por um minuto as escritoras brasileiras mais conhecidas. Atenham-se demoradamente às linhas de Orides Fontela (1940-1998), uma poeta que ainda permanece no anonimato literário por conta de seu temperamento amargo e explosivo. Seu talento, porém, nunca fora negado desde os versos iniciais que compôs.

Orides fez parte da "geração de 60". Publicou seus primeiros poemas em 1956, no periódico "O Município", de São João da Boa Vista. "Transposição", primeiro livro de poesias, foi lançado em 1969.

"Helianto" (1973), "Alba" (1983; vencedor do Prêmio Jabuti de Poesia), "Rosácea" (1986), "Trevo 1969-1988" (1988) e "Teia" (1996) foram editados na sequência e entraram para o rol de livros raros de se encontrar em livrarias e até em sebos. Os dois últimos ficaram esgotados durante alguns anos.

Em 2006, parte da obra de Orides --"Transposição", "Helianto, "Alba", "Rosácea" e "Teia"-- foi compilada em um exemplar pela Cosac Naify, "Poesia Reunida [1969-1996]", com bibliografia ampla e atualizada. No mesmo ano, a obra ganhou o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), na categoria "Literatura: Poesia".

Os versos de Orides fazem uma leitura filosófica da literatura. Seus desajustes são traduzidos por meio de um tom lírico e simbólico. A poesia, no estado metafísico e móvel dos seres.

Entre o ser e o nada, numa alusão à filosofia heideggeriana, os poemas descrevem a brevidade mundana. Espelho, pássaro, flor, tempo e a própria fala tornam-se quase criminais, porém essenciais como registro de mundo. As estrofes nascem problematizadas e querem mostrar para o leitor que as felicidades são mau agendadas por estado de natureza.

O mundo proporcionou à poeta momentos agudos de depressão e solidão, além de dificuldades financeiras. Tanto que ela recebeu apoio dos amigos Antonio Candido, Davi Arrigucci Jr. e Marilena Chauí. Seu drama pessoal era traduzido além da página. O peso da realidade lhe conduzira várias vezes ao suicídio.

Orides passou seus últimos anos na Casa do Estudante Universitário, região central de São Paulo. Morreu em 2 de novembro de 1998, na Fundação Sanatório São Paulo, em Campos do Jordão, vítima de tuberculose.

Escrito por: PAULA DUME

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